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E se a EKUI existisse há 25 anos?

Há 25 anos, estava eu sentada na cadeira de uma sala de aula, pronta para descobrir a magia de aprender as letras, os sons, os números e entrar no, mundo novo através da leitura e da escrita. Estava oficialmente no 1º ano do 1º ciclo.

Quando comecei esta aventura, com a inocência própria desta idade, encontrava-me longe de imaginar que seria um processo doloroso. Sim, posso assumi-lo como doloroso porque, ainda hoje, tenho na minha memória episódios dessa fase que não me deixam muito feliz. Tudo isto, porque aprender a ler e a escrever não foi, de todo, um processo fácil.

Lembro-me que tive muita dificuldade em aprender o /f/ e o /v/. Perceber que eram duas letras diferentes e que tinham dois sons diferentes. Quando é que deveria escrever a letra F? Quando é que deveria escrever a letra V?

Confundia, constantemente, estes dois sons. Sempre que escrevia “faca” escrevia com /v/, consciente que estava a escrever corretamente. Recordo-me da frustração, da tristeza e até do medo que sentia sempre que ia ao quadro e sabia que, mais uma vez, ia errar.

E isto acontecia porquê? Será que era um problema só meu? Será que existia algo de errado comigo?

Claramente que não. Estávamos perante uma situação de disgrafia disléxica, também conhecida por disgrafia preceptiva. Trata-se de um tipo de disgrafia, caracterizada pela dificuldade que a criança tem em relacionar os sistemas simbólicos e as grafias que representam os sons, ou seja, o que a criança escreve não corresponde ao que ela quer dizer (FERREIRO, 1997).

E se a Metodologia EKUI fosse usada durante o meu processo de alfabetização?
Pois bem, tudo seria diferente. A EKUI (Macedo, 2015) iria permitir-me entender (através da pista visual do gesto da LGP) que o F e o V eram duas letras diferentes e quando é que deveria usá-las. Através da configuração manual dos gestos letras conseguiria fazer a correspondência direta com a forma gráfica da letra:

 Ajudar-me-ia através das pistas cinestésicas e dos pontos fonoarticulatórios: que para produzir o som /f/ devo morder o lábio inferior com os dentes superiores e deixar o ar sair e para produzir o som /v/ devo com os dentes superiores morder o lábio inferior e sentir a vibração das cordas vocais.

Enquanto pai/mãe ou professor, quais são os sinais de alerta?
Neste tipo de disgrafia podem ocorrer:

1. Omissão de letras;

2. Confusão de letras com sons semelhantes. Por exemplo: faca e vaca, porta e morta;

3. Confusão de letras com orientação simétrica similar;

4. Inversão na ordem das sílabas;

5. Agregação de letras e sílabas;

6. Uniões e separações indevidas de sílabas.

No processo de aprendizagem a confusão inicial é normal, mas, se persistir, é essencial avaliar e intervir.

Diana Faria (Intérprete de Língua Gestual Portuguesa)

Referência Bibliográfica: Macedo, Celmira (2015). Metodologia EKUI. Artigo não publicado, cedido pela autora (2020).

Revisão de: Liliana Félix


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