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EKUI, uma metodologia ou uma arma de destruição massiva?

A Maria tem 53 anos é surda. Ainda hoje é a mãe, com 83 anos, quem lhe trata de tudo, até das contas do banco. A Maria tem estatuto, família, mas recusa-se a sair de casa, tem vergonha. Muita vergonha. Saiu da escola sem aprender a ler, a escrever, ou comunicar em língua gestual. Como a Maria estão mais de 1,5 milhão de portugueses, têm dificuldades em comunicar. Uns porque nasceram com deficiência; outros porque tiveram um acidente, doença ou um AVC; e outros porque saíram da escola analfabetos.

A Luana tem 5 anos e não faz parte deste 1,5 milhão de portugueses. Um dia no shopping tentava conversar com um casal de surdos. Com toda a naturalidade explicou à mãe que na escola, quando aprendeu as letras, aprendeu também a “falar com pessoas surdas e cegas”. Como a Luana outras trinta mil crianças em Portugal ganharam esta consciência, através da EKUI.

EKUI uma metodologia

A EKUI é uma metodologia de aprendizagem inclusiva, única no mundo. Disruptiva. Utiliza o braille, a língua gestual e a fonética para ensinar a ler, a escrever e a comunicar, além de educar para a cidadania. Centenas de professores comprovaram a sua eficácia na aprendizagem dos alunos. Um orgulho, portanto. Mas também uma inquietação. Porque a inovação implica mudança e rutura.

EKUI uma metodologia

O que faz da EKUI o moscardo que espicaça as consciências adormecidas no sistema social e educativo ao qual nos habituamos. Uma arma de destruição massiva que deita por terra as barreiras na comunicação; destrói os estigmas de que algumas crianças não conseguem aprender; combate os dogmas que perpetuam a ideia de que não é possível ensinar todos, no mesmo espaço e com os mesmos materiais; e aniquila preconceitos. Afinal a língua gestual não é uma língua menor, pois através das pistas visuais, facilita o processo de memorização da grafia, o que faz com que todas as crianças, independentemente das suas capacidades aprendam mais rápido o alfabeto.

EKUI uma metodologia

Mas não foi assim que aprendemos a ensinar. Não foi assim que nos ensinaram a aprender, mas pode ser assim o modo que escolhemos viver. Ser ou não ser EKUI, eis a questão. Se ainda não decidiste, pensa no mundo que queres ter daqui a 20 anos: com mais Marias ou mais Luanas?

Nós por cá já decidimos, continuaremos a Ekuizar para mudar o mundo, para garantir que não haja mais Marias em Portugal.

 

Celmira Macedo
28-08-2018